quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Pela memória do povo alemão no sul do Brasil - Histórico de minhas pesquisas


Há dez anos atrás, ganhei uma caixa de fotos antigas. Ela pertencia a minha avó paterna. Quando era pequeno, via a mãe de meu pai, que morava conosco, carregá-la sempre que visitava nossos parentes no interior e na minha terra natal, Novo Hamburgo. Aquela caixa guardava fragmentos da vida de minha avó, imagens de seus pais, tios, irmãos e irmãs, aquelas imagens exemplificavam boa parte das histórias que ela contava.

Com o seu falecimento não sabíamos mais quem eram todos aqueles retratados em fotos antigas da primeira metade do século XX. Aparentemente aquelas imagens ficariam ali alguns anos e teriam um fim como praticamente todas as fotos antigas têm ao passar das gerações. Mas a história foi diferente. Começaram aí, minhas visitas para descobrir quem eram aqueles retratados naquelas imagens.

Visitei os parentes mais próximos, tios avós, primos, e passo a passo identifiquei o que consegui. Porém, em cada casa que ia, cada parente contava uma história sobre um material perdido para sempre, uma caixa queimada, outra perdida em uma enchente ou um incêndio, outra colocada no lixo sem remorso qualquer. Daí iniciei uma busca incessante atrás de fotos antigas.

Lembrava de meus tios avós me contanto que quando pequenos viram fotos de seus bisavós, trisavós e que aquelas imagens se perderam, pensei que alguém poderia ter pesquisado antes de mim e ter resgatado isso. Todos contavam a mesma história: “se naquela época eu me interessasse por isso”, “era muito jovem e passei a dar valor com mais idade”.

Eu percebia que no meu caso era diferente, passei a gostar disso muito jovem e que tinha nas mãos uma oportunidade única, começar um trabalho de visitas, pesquisas, identificação, digitalização, cópia e seleção de fotos antigas. Seguramente as pessoas, até mesmo aqueles familiares mais próximos me viam com olhares incrédulos. Um “guri” de 14 anos se interessando por coisas antigas... Isso devia ser apenas uma “febre”.

Encontrei resistências, pessoas que esconderam material, que não emprestaram fotos, que não me receberam. Não as culpo de modo algum. Aqueles que preservaram durante décadas os acervos de seus ancestrais, ainda me viam como um estranho e certamente por não conheceram meu trabalho ou por eu ainda ter pouco para apresentar, se mantiveram reclusos.

Os anos foram passando, fui adquirindo conhecimentos, praticando a habilidade de falar e de chegar nessas famílias e meu arquivo foi crescendo mais e mais. A partir de 2005 comecei a publicar fotos antigas no Jornal NH de Novo Hamburgo. Foi uma forma de preservar esse material, de divulgar essas histórias e de ganhar ainda mais confiança.

De 2001 até 2009 eu possuía aproximadamente 2.000 imagens. Durante o decorrer daquele ano pensei em como me dedicar ainda mais e ampliar esse acervo. Fiz um mapeamento do interior, contatei famílias, pedi a essas que me auxiliassem e me passassem novos contatos e comecei as visitas. Em pouco mais de um ano transformei um acervo de 2.000 imagens em 14.700.

Foi uma tarefa enorme... Passei horas, dias, semanas nesse desafio. Cada final de dia em visita ao interior, eu me sentia realizado. Cada casa enxaimel, cada sótão antigo, cada parede repleta de quadros, elementos ainda preservados nas colônias alemãs no sul do Brasil, me encantavam e me davam ânimo para continuar.

Em janeiro de 2010 publiquei meu primeiro livro e em julho desse mesmo ano meu segundo. Com essas duas publicações, atingi meu maior objetivo, preservar essas imagens que contam o nosso passado, através das publicações. Passei o ano elaborando novos projetos e procurando de que forma conseguirei transformá-los em novos livros.

Em 2010 elaborei o histórico em fotos, dos municípios de Alto Feliz, Feliz, Novo Hamburgo, Nova Petrópolis e Linha Nova. Em 2011 pretendo visitar Nova Petrópolis, Igrejinha, Dois Irmãos e Presidente Lucena. Não sei o que me aguarda para o ano de 2011, sei que pretendo aumentar muito mais esse acervo, e que com esses dois primeiros livros preservei para o futuro cerca de 300 imagens e que faltam publicar ainda outras 14.400.

E tudo isso que começou com uma caixa de fotos, forma hoje o maior acervo fotográfico sobre imigração alemã no sul do Brasil.

2 comentários:

  1. Parabéns!!Seu acervo de fotos é belíssimo e a sua coragem e bravura em prosseguir com este trabalho, q é dificultoso, devido muitas vezes não sabermos nada referente a foto q achamos e de repente...sabe se tudo.Formidávelel.Isto é história!!Parabéns!!

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  2. Trabalho garimpado com muito amor, imagino quanta alegria em cada pequena revelação. Um grande abraço e saudações.

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